Urgência na implementação de políticas eficazes
Até à data, poucas foram as políticas criadas que aliam a agricultura à juventude e o mesmo acontece com a criação de instrumentos específicos. No entanto, são cada vez mais as iniciativas neste sentido.
De uma maneira geral, os jovens têm uma imagem muito negativa da agricultura, sendo esta muitas vezes associada a baixos rendimentos e trabalhos pesados. Não corresponde em nada às suas aspirações e não oferece perspetivas atrativas. Por este motivo, é necessário mudar a imagem da agricultura.
Há cada vez mais iniciativas neste sentido. São diversas as estratégias utilizadas: a Rede das Associações de Agricultores das Caraíbas (CaFAN), por exemplo, lançou a exposição Agrofest, nos Barbados, que destaca a diversidade de oportunidades, tal como a feira agrícola de Denbigh, na Jamaica, ou ainda o Festicoffee e o Festicacao, nos Camarões. Em Santa Lúcia, a relação entre agricultura e turismo permite não só estimular a produção, mas também mudar a imagem da agricultura e aliciar as camadas mais jovens.
Políticas tímidas
Até aos dias de hoje, contam-se pelos dedos de uma mão as políticas elaboradas que visam, simultaneamente, os jovens e a agricultura. Este é o caso do Pacífico e do Gana. Não obstante, um pouco por todos os países ACP, o êxodo rural, o desemprego jovem e uma população rural envelhecida, e a crescente dependência relativamente às importações alimentares são uma realidade.
Assim, a Rede de Políticas Agrícolas e Florestais do Pacífico (PAFPNet), em conjunto com o Secretariado da Comunidade do Pacífico (SPC), iniciaram, em 2008, uma reflexão sobre como levar os jovens a interessarem-se pela agricultura. Foram levados a cabo vários inquéritos de terreno nas Ilhas Fiji, no Tonga e em Kiribati que levaram ao lançamento, em 2010, da Pacific Youth in Agriculture Strategy 2011-2015 (Estratégia para a participação dos jovens na agricultura no Pacífico), que recomenda medidas e iniciativas para encorajar todas as partes interessadas a favorecer a participação ativa dos jovens.
No Gana, o Programa Nacional para o Emprego Jovem (NYEP - National Youth Employment Programme), adotado em 2006, foi reforçado pelo Programa para a Juventude Agrícola (YIAP - Youth in Agriculture Programme) em 2009. O YIAP ajuda, em particular, as camadas mais jovens a conseguir acesso a terrenos e equipamento (ou prestando-lhes apoio para que os consigam adquirir) e oferece formações e supervisão. No entanto, de acordo com um balanço efetuado em 2013, apenas 25% dos participantes podem ser considerados «jovens». A formação não os atrairia, uma vez que os rendimentos estimados não são suficientemente elevados.
A nível continental, passaram apenas 10 anos desde a adoção, em Maputo, do Programa Detalhado de Desenvolvimento da Agricultura Africana (PDDAA), momento em que se refletiu sobre a participação e o envolvimento dos jovens na agricultura. Um trabalho realizado, em parte, pela FANRPAN (Food, Agriculture and Natural Resources Policy Analysis Network), que levou a cabo estudos em vários países da África Austral, disponibiliza algumas recomendações sobre como elaborar, a nível nacional, políticas que associem os jovens à agricultura.
Há ainda muito caminho a percorrer para começar a considerar a juventude rural, ignorada durante tanto tempo, bem como reforçar o diálogo entre os políticos e os jovens. A representação jovem junto das organizações deve ser reforçada. Ainda assim, surgem constantemente novas iniciativas e abordagens.
Transformar agricultores em verdadeiros empresários
Na Nigéria, a Iniciativa de Empreendedores Agrícolas, lançada em agosto de 2012 pelo Instituto Internacional de Agricultura Tropical (IITA - International Institute of Tropical Agriculture), revelou algum sucesso e já se faz sentir em todo o país, tendo sido emulada no Congo e ainda na Tanzânia. O grupo dos Empreendedores Agrícolas é composto por jovens com habilitações superiores nas mais variadas áreas inerentes à agroindústria. O objetivo é fazer da agricultura uma plataforma de criação de emprego para os jovens, ao mesmo tempo que se maximizam os canais de valor de diferentes culturas, como a da mandioca, do milho, da banana, da banana-pão e da soja.
Na Tanzânia, a Mviwata, uma organização nacional de agricultores, criou a Mviwamo Youth Wing que desenvolve os setores considerados ricos em oportunidades para os jovens das zonas rurais. Deste modo, as aves de capoeira e o girassol foram identificados como uma fonte de receitas alternativa às culturas mais tradicionais como a do milho, do feijão e da batata. Os membros beneficiam de serviços como assistência técnica à produção e ao desenvolvimento do negócio, para além do acesso a crédito para adquirir fatores de produção, apoio à comercialização, etc.
No Senegal, o Ministério da Agricultura também salientou a importância de apoiar as iniciativas empresariais de mulheres e jovens, através do lançamento do programa Domínios Agrícolas Comunitários (DAC) em nove zonas. Em cerca de 30 000 ha de terreno, a instalação dos agricultores será facilitada através de uma oferta de serviços. O projeto pretende criar 150 000 postos de trabalho.
O Centro Songhaï, fundado em 1985, no Benim, serviu de modelo para oferecer aos jovens alternativas credíveis, graças ao empreendedorismo agrícola. Promovido à categoria de excelência para a África, pela ONU, o modelo Songhaï é reproduzido numa quinzena de países africanos.
Nos Camarões, face a uma média de idades entre os 55 e os 65 nas áreas de produção, o Conselho Interprofissional do Cacau e do Café (CICC) lançou, em 2012, a iniciativa «New Generation» com o compromisso de revigorar a sua força de produção. A estratégia passará por implementar um curso de formação durante três anos, prestar acompanhamento técnico para a criação de um viveiro, até à comercialização do cacau e do café, disponibilizar fatores de produção e material vegetal.
A fórmula parece resultar: em dois anos, o país ganhou 500 ha de novas plantações de cacau exploradas por 325 jovens. Uma iniciativa única que começa a trazer benefícios e que poderá ser replicada, em especial pela Organização Internacional do Cacau.
Diversas ações que podem ser conjugadas com, por exemplo, a mobilização de parcerias público-privadas, como no Uganda, onde um fundo de apoio às iniciativas empresariais de jovens, o Youth Venture Capital Fund, foi implementado graças a uma colaboração entre o Estado e três bancos. Ou ainda, o apoio de uma rede como a dos Jovens Profissionais para o Desenvolvimento Agrícola (YPARD).
Uma nova abordagem da formação
Reforçar as competências técnicas e de empreendedorismo dos jovens parece ser, frequentemente, uma etapa necessária num contexto rural, onde a taxa de alfabetização e a formação estão, muitas vezes, em desvantagem em relação a zonas mais urbanas. Foi implementada uma nova abordagem pela FAO, em conjunto com as Escolas Práticas de Agricultura e Aprendizagem da Vida para Jovens (JFFLS): após um ano, a duração de um ciclo de cultivo, os jovens rurais adquirem competências agrícolas, de vida e de empreendedorismo. Por exemplo, na Tanzânia, as JFFLS estão focadas no reforço das capacidades dos membros de cooperativas em determinadas cadeias de valor, como a horticultura, a castanha de caju, a carne vermelha, as árvores de fruto e o arroz, favorecendo a inclusão dos jovens nas Federações de Cooperativas Agrícolas.
Lançadas, em 2003, em Moçambique, as JFFLS foram introduzidas em cerca de 20 países e, consequentemente, foram formados perto de 20 000 jovens e 2 000 facilitadores. As escolas de campo, ou as Farmer Field School (FFS), verdadeiras plataformas de aprendizagem e partilha de experiências entre agricultores, são também um meio para difundir conhecimentos, tecnologias e inovações. Após 1989, mais de dois milhões de agricultores participaram neste modelo de aprendizagem. Estas iniciativas contribuíram para a reforma necessária da formação em agricultura.
As TIC, sem dúvida
Se as formações não forem suficientes, as TIC são, sem dúvida, uma ferramenta que favorece as oportunidades, as motivações e as capacidades dos jovens agricultores a abraçarem a agricultura. Estas têm um papel na melhoria das condições de vida desses jovens, na modernização da atividade e na criação de benefícios, tudo isto em toda a cadeia de valor com múltiplas aplicações para smartphone, oferecendo informações com mais qualidade (cf. Esporo n.° 119 dossier TIC: A revolução numérica). Além disso, elas reforçam e desenvolvem as organizações de agricultores, através das redes sociais. São várias as ações que podem ser desenvolvidas, tal como a formação de jovens nas TIC (nomeadamente nos meios rurais), os concursos sobre a utilização das TIC na agricultura, etc. Os jovens informáticos devem ser, além disso, encorajados a criar aplicações informáticas que visem o mundo agrícola, o que lhes pode garantir rendimentos e reforçar a modernização do setor agrícola. O CTA, que coloca os jovens no centro da sua nova estratégia para 2013-2017, desenvolve várias ações neste domínio
A agricultura é, atualmente, uma fonte de crescimento. O seu desenvolvimento é indispensável para a melhoria da segurança alimentar do planeta. Para responder a estes desafios, são necessários os jovens. Contudo, tal como acontece para os mais velhos, os condicionalismos devem ser eliminados, principalmente aqueles que estiverem relacionados com o acesso a terrenos e ao financiamento, sendo que a formação deve ainda ser alvo de melhorias.
A transformação e modernização necessárias da agricultura deveriam ser acompanhadas de uma melhoria da capacidade de atrair jovens e uma maior produtividade. Como em qualquer outra parte do mundo, faremos mais com menos pessoas. Do mesmo modo, o futuro de toda a sociedade humana passa pelo desenvolvimento das cidades. Acompanhar o desenvolvimento das cidades secundárias das áreas rurais permite também criar inúmeros postos de trabalho para os mais jovens.
Anne Guillaume-Gentil